terça-feira, 21 de setembro de 2010

Bicando em Filmes: A Lista de Schindler – Schindler's List (1993)

"This list is an absolut good... this list... is life". – Ithzak Stern

O que você faria se, em um tempo de guerra, de sangue inocente correndo pelas ruas, de atrocidades cometidas das formas mais banais diariamente, de uma purgação ao impróprio e ao incomum... você tivesse em suas mãos o poder para salvar uma vida? Abriria mão de tudo que você conquistou ao longo da vida, seu dinheiro, seu status social, seus amores e família, para salvar aquela única vida? E se fossem... mais de mil vidas em suas mãos?

Essa é a história de Oskar Schindler, na obra-prima cinematográfica A Lista de Schindler (1991), mais do que recomendado pelo Rouxinol. Nesse momento, é provável que exista uma geração inteira que nascera depois do estrondo que esse filme causou em seu ano de lançamento, e que desconhece a grandiosidade, a relevância, e o impacto monumental que A Lista de Schindler traz, em suas 3 horas e 14 minutos de película.




A saga começa em 1939, no começo da 2ª Guerra Mundial. A Polônia, invadida pelas forças alemãs de Hitler, começa a relocação de judeus polacos para as áreas do gueto de Cracóvia, capital do país. Todos os judeus do país são confinados em uma apertada area de 16 quadras. Enquanto isso, chega a cidade um homem de negócios alemão, Schindler (brilhantemente vivido por Liam Neeson), que decide utilizar a grande massa judia desempregada como mão-de-obra em sua fábrica, para lucrar na guerra. Ele recruta um contador judeu, Ithzak Stern (Sir Ben Kingsley, numa atuação emocionante), e ganha aliados, e um status no Partido Nazista.

Algum tempo depois, com o avanço da Guerra, os soldados alemães, sob o comando do Capitão da SS Amon Göth (Ralph Fiennes, outro monstro do cinema), começam uma Operação Limpeza em Cracóvia, exterminando todos que não cooperassem a serem mandados para o campo de concentração de Plaszow. Após isso, Schindler vai atrás de seus trabalhadores, e consegue firmar a empresa outra vez, o que salva muitas vidas, já que os corpos se empilham diariamente conforme a vontades dos sadistas oficiais alemães.

Porém, logo os judeus são mandados para o campo de extermínio de Auschwitz, e cabe apenas a Schindler salvar a todos seus trabalhadores mais uma vez, nem que tenha que arriscar toda sua fortuna adquirida, e até sua vida.




Cenas que chocam a audiência se repetem com uma incredulidade, e muitas vezes, é difícil acreditar que o que se passa na tela (que é ficção) aconteceu de verdade, e ceifou milhões de vidas. A levianidade com que pessoas são mortas pelas forças alemães, emociona e ao mesmo tempo, traz uma péssima sensação de voyeurismo, e culpa pelas atrcidades humanas, cometidas pelos pais de nossos pais. O mais sádico, e portanto o mais desesperador do filme, é a fina esperança do povo judeu, que acha que vão voltar pra casa quando pegam os trens rumo a Plaszow, e o filme mostra seus pertences sendo roubados, penhorados e destruídos; que pensam que a vda no gueto não pode piorar, quando surge a chacina de todos os que não são efetivos para a guerra – uma guerra contra eles mesmos, por sinal. A força para não desabar em lágrimas em frente aos filhos, toca. E no lugar, desaba a audiência.

Somado a tudo isso, vem o personagem principal do longa: Schindler, um anti-herói para o povo judeu - Nazista, rico, aliado aos militares alemães... - que justamente, é a pequena Luz em um mundo tomado por Trevas, por qual todos anseavam. Ele era um homem, e um homem apenas. Mas, mesmo sendo um, ele jogou tudo o que conquistara ao longo da vida fora, em prol do bem maior. Citando seu epitáfio (e o Talmud – um dos textos centrais do judaísmo): "Quem salva uma vida, salva um mundo inteiro". E quem salva 1200 vidas, como Schindler?

Ao se aproximar o final do espetáculo, a Guerra e a perseguição aos Judeus, cessam. E pra coroar a montanha-russa de emoções perturbadoras, vem a cena onde Schindler, como membro do Partido, tem que fugir para salvar sua pele do Exército Russo. Os diálogos, os olhares, e expressões de todos os trabalhadores em relação ao Herr Schindler, acabam com qualquer certeza sobre o certo e o errado, conceitos tão usados e justificados na nossa sociedade. Ilustrando o gran finale, vêm a máxima: "Numa Guerra, não há vencedor e perdedor. Ambos são perdedores."

Segue um trailer, para já se começar a engolir em seco, e se preparar para uma verdadeira viagem:





Um Marco Cinematográfico, um dos melhores filmes de todos os tempos – Um pequeno objeto brilhante, mais do que digno de perambular por aqui, no Canto do Rouxinol =]

P.s. do Rouxinol: Em breve, uma análise mais aprofundada sobre a Garotinha do Casaco Vermelho, presente no filme A Lista de Schindler. Curiosos? Voem atrás para assistí-lo!




sábado, 11 de setembro de 2010

Bicando em Livros: Isaac Asimov - O Fim da Eternidade (1955)

Voltando ao garimpo das vasta coleção de pedrinhas preciosas talhadas pelo grande Isaac Asimov, eis que o Rouxinol vem hoje com um livro, chamado O Fim da Eternidade. Um dos poucos (senão o único) livros de Asimov que tratam de outro campo amplamente explorado na Ficção Científica, porém poucas vezes descritos com real qualidade – Viagens no Tempo.

O furor sobre seres humanos se deslocando pela Linha do Tempo, enfrentando paradoxos temporais e mudando seus passados e futuros nasceu da mente de H.G. Wells, no livro "A Máquina do Tempo" em 1895, há mais de 100 anos atrás. Desde então, muitos se aventuram nessa corrente, contando histórias sobre futuros longínquos, e mais simbolicamente, a confrontação de destino (definido pelas Leis do Universo), com o livre-arbítrio da ação humana: Pode alguém voltar ao passado, e alterar a história ao ponto de que essa mesma pessoa não venha a nascer? Se não, quem ou que o impediria? E se sim, se aquela pessoa não vier a existir, quem que fez a mudança temporal pra início de conversa?


O "exemplo máximo da modalidade" das teorias de Viagens no Tempo, como o próprio Asimov descreve, é o romance "Fim da Eternidade". Aqui, a Eternidade é uma organização de humanos, denominados Eternos, que encara o Tempo como um prédio, os Séculos sendo os infintos andares (para cima e para baixo), e cada andar se dedica a estudar, analisar, e se necessário, alterar o curso daquela história, visando o "Bem Maior" da humanidade.

Nesse contexto, somos apresentados a Andrew Harlan, um Eterno que tem a profissão de Técnico (o executor das Mudanças de Realidade). Ele é do Século 95, e assim como todos os Eternos, sua existência foi apagada de seu Tempo normal, e ele não pode constituir família – a não ser em circunstâncias muito especais - , nem nada que o prenda emocionalmente ao Tempo. Harlan, diferente de muitos, parece ter um interesse na história primitiva do homem, aquela de antes da Eternidade surgir – o que se deu no Século 24, quando foi inventado o Campo Temporal.  E graças a isso, Harlan é designado para ensinar História Primitiva a um Aprendiz especial, chamado Cooper.

Até que certo dia, Harlan viaja para fazer uma Mudança de Realidade, e conhece uma Tempista (moradora da Linha do Tempo, um ser humano normal) chamada Noys Lambent. Harlan se apaixona por ela, mas acaba por descobrir que na próxima Mudança de Realidade, Noys terá sua existência apagada definitivamente. Assim, Harlan terá que usar de todos os seus recursos para impedir que seu amor seja apagada da Realidade. Nem que para isso, tenha que destruir toda a Eternidade. Com essa premissa, o final se encaminha dramaticamente, ligando todos os personagens a seus destinos de forma surpreendente.

Com essa sinopse mirabolante, o livro se sobressai e muito dos outros livros de viagem no tempo, por toda a lógica e a construção desse outro Universo, proporcionado pela mente genial de Isaac Asimov. Os personagens têm seus próprios termos e linguagens, e expressões como Tempista, Tempo-abaixo, Fisiotempo, e Séculos Ocultos são a marca da história, presentes em todo lugar. Porém, são de fácil entendimento, e envolvem o leitor na história especialmente por isso, aquela espécie de linguagem em código, que não faz sentido nenhum para nós, mas para os personagens daquele Universo.

Toda a concepção dos paradoxos temporais, e o confronto destino x livre-arbítrio, já mencionados antes, surgem como grandes indagações: Será que Harlan conseguirá destruir a Eternidade? Ou será que todas as ações dele, mesmo nesse sentido, contribuem apenas para "o que já estava escrito", o fim da existência de Noys? Poderá Harlan (e em conceito maior, toda a humanidade, de todos os séculos), tomar conta de seu destino, e escapar das garras dos Eternos?

Livro fascinante para se ler, degustar e quebrar a cabeça pensando a respeito das implicações do mesmo. Relembrando que a obra foi escrita há 65 anos atrás – só vindo mesmo da cabeça do célebre Isaac Asimov.

O Rouxinol finaliza por hoje, transpirando: Acaso e Destino. Albert Eistein dizia "Deus não joga dados com o Universo", enquanto Stephen Hawking contrabalanceava com "Não só Deus joga dados, como também os joga em lugares onde não podemos ver". Pessoalmente... os dois estão estão certos. O Rouxinol crê que destino e acaso são duas faces da mesma moeda. Mas claro que o único acaso que importa é esse: no que VOCÊ acredita?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Rouxinol apresenta: O Ankh

Salve, caros amigos. O Rouxinol retorna ao Canto hoje trazendo algo muito interessante. No seu eterno garimpo por objetos brilhantes, a Ave que vos fala deu de bico esses dias com um símbolo ancestral, chamado Ankh. E pelo que saiba o Rouxinol, a história desse símbolo só não é maior do que as várias interpretações, que a humanidade empregou ao longo das Eras. É claro que vocês sabem do que estou falando:


O Ankh, também conhecido como Cruz egípcia, ou Cruz Ansata no Ocidente (Ansata vem do latim, e quer dizer Asa), é um símbolo recorrente em todas as gravuras e hieróglifos do Egito Antigo. É dito pelos especialistas que ele surgira na Quinta Dinastia, período de tempo que ocorrera de 2949 a 2345 A.C. E o principal significado atribuído ao Ankh se liga fundamentalmente aos conceitos de vida e morte, ou melhor, de Vida Eterna.

Vida após a morte, e ressurreição, eram conceitos amplamente difundidos na cultura egípcia, e freqüentemente retratados nas paredes de tumbas e pirâmides. Os Deuses sempre apareciam carregando um ou dois Ankh, deixando clara sua imortalidade, e repassando-os aos Faraós que ali estavam sepultados. Como se o Ankh fosse como uma chave que abrisse a porta da Outra Vida. Assim, muitas pessoas carregavam esse amuleto por todas suas vidas, para que também ressuscitassem. Curiosamente, a palavra Ankh (ou Anx) também quer dizer espelho, e muitos Ankh antigos eram feitos com uma face espelhada, para que as pessoas pudessem contemplar seu Pós-Vida, como uma outra face de sua realidade.

O próprio formato do Ankh já traz um maior entendimento do seu significado. Por exemplo, para que ocorra a ressurreição, é necessária a concepção da nova vida. O que é representado na União da parte Masculina (as três pontas do Ankh, trazendo a idéia do pênis) e a Feminina (o arco oval, trazendo a ideia do ventre). O masculino seria Osíris, Senhor dos Mortos, e marido de Ísis, Deusa da Fertilidade e Maternidade, a parte Feminina do Ankh. Ísis teve seu filho Hórus no delta do Rio Nilo, portanto há outra interpretação do Ankh que se complementa a essa, como vida e morte sendo representados pelo curso do Rio (o círculo oval) que é imutável, e perpétuo. Assim como o Ciclo da Vida. Hoje em dia, a estrutura do Ankh foi um pouco alterada, e serve mais como um símbolo feminino (você já deve ter o visto ser usado nesse propósito)... Mas todo esse entendimento ainda se faz presente.

Mitologia Egípcia é um assunto que arrepia as penas do Rouxinol, e em breve estarei me aprofundando muito no assunto, para compartilhar com vocês mais algumas dessas pérolas. Mas é claro, que todos já sabiam do Ankh e seus significados mais aprofundados. O simbolismo é evidente, e está sempre na cara das pessoas, o tempo todo. Toda a sociedade hoje, apesar de se achar tão avançada culturalmente, ainda é regida pelas mesmas regras da Antiguidade. Basta ver, observar, e não apenas olhar, para descobrir que "ainda somos os mesmos, e vivemos como nossos... ANCESTRAIS".

Farewell, pessoas. Até a próxima análise rouxinólica! ;-)