sábado, 31 de julho de 2010

Bicando em Música: Nightwish – Gethsemane

A busca pelo entendimento das músicas do CD Oceanborn, da banda Nightwish, continua. Hoje o Rouxinol traz a obra-prima “Gethsemane”, uma das melhores músicas já compostas por Tuomas Holopainen, na opinião de seus próprios fãs. Ela trás outro tema, que, observando o álbum como um todo, acaba por se distanciar um pouco da idéia original. Mas é uma faixa, que não poderia deixar de estar presente no CD, pois nela se retrata a maior história de todos os tempos já contada: a história de Jesus Cristo. E traz um de seus momentos mais tocáveis, onde o Messias demonstra toda sua essência humana: a Agonia no Jardim Getsêmani, onde Jesus descobre que deve se sacrificar pela humanidade. Para Nightwish, em seu momento de sofrimento, Jesus foi tal como um poeta: Um mártir, que na razão de sua própria dor, traz uma luz a um mundo escurecido.



NIGHTWISH – GETHSEMANE




Toll no bell for me Father (Não toque o sino por mim, pai) But let this cup of suffering pass from me (Mas deixe este meu sofrimento passar) Send me no shepherd to heal my world (Não envie nenhum pastor para curar meu mundo)
But the Angel - the dream foretold (Apenas o Anjo - o sonho profetizado) Prayed more than thrice for You to see (Rezei mais que três vezes para que você visse)
The wolf of loneliness in me (o Lobo da Solidão em mim)
...not my own will but Yours be done... (... não a minha própria, mas que a sua vontade seja feita...)

Tocar o Sino” possui vários sentidos, porém o mais geral que se pode tirar do 1º verso, é uma tradição antiga da Europa, que o tocar de um sino anuncia a chegada da morte de alguém. “Deixe esse sofrimento passar” parafraseia a própria passagem do Jardim da Agonia, na Bíblia, além dos versos “rezei mais de três vezes” e “não a minha própria, mas que a sua vontade seja feita”. Além disso, tal ”Lobo da Solidão” traz uma imagem ainda mais humana a Jesus, como um herói caído, que possui também falhas, como qualquer homem.

Refrão:
You wake up where is the tomb (Você acorda onde há uma tumba)
Will Easter come? Enter my room? (
A Páscoa virá? Entrará em meu quarto? )
The Lord weeps with me (O
Senhor lamenta por mim )
But my tears fall for you (
Mas minhas lágrimas caem por vocês )

Os dois primeiros versos discorrem sobre a visão que Jesus tem de seu futuro, em sua conversa com seu Pai. Ele se pergunta se realmente vai ocorrer sua ressurreição “Will Easter come? Enter my room?”. Dúvidas que afloram mais ainda a sua não-onisciência dos fatos... No final, uma conclusão tomada pelo seu sacrifício. O Senhor está chorando pela morte próxima de seu filho. Porém Jesus não se lamenta por isso. E sim por toda a humanidade, ignorante, que pretende crucificar seu próprio Salvador.

Another Beauty (Outra beleza)
Loved by a Beast (Amada por uma Fera)
Another tale of infinite dreams (Outro conto de sonhos infinitos)

Your eyes they were my paradise (Seus olhos que eram meu Paraíso) Your smile made my sun rise (Seu sorriso fez meu sol nascer)

A Bela e a Fera” é um conceito abordado inúmeras vezes na discografia do Nightwish, inclusive com duas faixas diretamente ligadas a tal, pelo nome. Naturalmente, não é uma referência ao clássico Disney ( que é inspirado em um conto francês do Séc. XVIII ), mas sim a pura idéia de algo, belo, gracioso, e porque não, perfeito (Humanidade), sentir empatia por algo mais visceral, bruto, e impuro (Jesus), já que ele mesmo se considera menor, tal sua humildade, e crença na maravilha humana. Aqui Jesus, incorporando um poeta (ou seria o contrário?) professa todo seu amor pela humanidade, e como a “beleza da fera” o encanta.

Forgive me for I don't know what I gain (Perdoe-me por não saber o que eu ganho)
Alone in this garden of pain (Sozinha neste jardim de dor.)

Enchantment has but one truth: (O encantamento tem apenas uma verdade:) I weep to have what I fear to lose (Eu lamento em ter o que eu temo perder)

Aqui, O Messias divaga, se perguntando, e a Deus, se realmente fará diferença seu sacrifício... e depois ele finalmente toma uma conclusão, em relação a seus sentimentos por sua vida humana: Ele lamenta estar vivo, e ter tido todas aquelas experiências na Terra, se fatalmente, seu destino é a morte “Eu lamento em ter o que eu temo perder”.

"I knew you never before (Eu nunca os conheci antes)
I see you never more (E nunca mais os verei)
But the love the pain the hope O beautiful one (Mas o amor, a dor, a esperança, ó Belo)
Have made you mine 'till all my years are done" (Fiz-vos meus “até que todos meus anos tenham-se acabado”
)

A penúltima parte surge meio como uma despedida, e as aspas trazem como se fosse uma citação ao que foi dito por Cristo. “O beautiful one”, em tradução para português perde-se o sentido, mas é perceptível que é como Jesus aclama a toda a raça humana, em uma unidade. Mesmo essa mesma raça humana sendo a que vai se preparar para sua execução 12 horas depois, ele ainda sente “o amor, a dor, e a esperança” para com ela.

Without you (Sem você)
The poetry within me is dead (O meu Poeta interior está morto)

O ultimo verso, simples e profundamente denso, traz a luz de todo o Amor existente. Não um amor, mas o Amor. Aquele que define e separa o humano do divino.


Comentários do Rouxinol: Sem dúvida, uma música espiritualmente profunda, que exalta toda a Cruzada de Jesus Cristo pela Terra, buscando a salvação da humanidade. O Rouxinol já ouviu muitos homens nos dias de hoje, porém, negarem tal sentimento de Ode ao Senhor, em busca de uma libertação ateísta. Talvez tenha sido real essa história; talvez não; tanto tempo já se passou daqueles dias para hoje, que a questão perde a relevância.

O ponto a se levar em conta, é que, não importa sua religião. O que importa é sua inspiração em fazer o Bem. E, de tantas histórias que o Rouxinol aqui já carregou pelo bico, difícil encontrar uma tão mais inspiradora do que essa. Quem sabe, superando todas as diferenças, o Homem não consiga se igualar, e finalmente obter esse Amor, citado na analise. Não só pelo próximo. Mas pelo Tudo.

Como disse Robert Langdon: “Porque há tanta preocupação sobre mortal ou divino. Talvez o ser humano seja divino”.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Bicando em Livros: Franz Kafka – Diante da Lei (1925)

Bem amigos, hoje o Rouxinol surge ao Ninho com mais um Gênio, mais um ourive de objetos brilhantes, como esse que seguirá. O autor é Franz Kafka (1883-1924), e o conto, ou melhor, parábola, é Diante da Lei.

O Austro-húngaro Franz Kafka foi um escritor cultuadíssimo em seu tempo. Usava-se de variados temas em sua literatura, que são recheadas de noções existencialistas, modernistas, e até metafísicas. Outro ponto bem focado por Kafka em suas histórias, entre elas O Processo - de onde essa parábola é extraída – era uma satirização das instituições do governo em geral, suas leis, e o excesso de burocracia que atrasa e cria desigualdades na sociedade. Leitura bem interessante, o conto Diante da Lei retrata a busca de um homem para ter acesso a Lei. Não há informações de época, ou nomes. É tudo bem metafórico, e ao mesmo tempo, a narrativa transcorre rapidamente, caminhando para um final, que deixa qualquer um abismado ao ler. Tudo isso em apenas duas páginas.
DIANTE DA LEI

Diante da Lei há um guardião. Um camponês apresenta-se diante deste guarda, e solicita que lhe permita entrar na lei. Mas o guarda responde que por enquanto não pode deixá-lo entrar. O homem reflete, e pergunta se mais tarde o deixarão entrar.

− E possível − disse o porteiro −, mas não agora.

A porta que dá para a Lei está aberta, como de costume; quando o guarda se põe de lado, o homem inclina-se para espiar. O guardião vê isso, ri-se e lhe diz:

− Se isso tanto lhe atrai, experimente entrar, apesar da minha proibição. Mas repare só: sou forte. E mesmo que eu seja o último dos guardiões. De sala para sala, guardas cada vez mais fortes estão de prontidão, de tal maneira que não consigo sequer agüentar o olhar do terceiro depois de mim.

O camponês não havia previsto estas dificuldades; a Lei deveria ser sempre acessível para todos, pensou ele; mas ao observar o guardião, com seu abrigo de peles, seu nariz grande e como de águia, sua barba longa de tártaro, rala e negra, resolve que mais lhe convém esperar até ter licença para entrar. O guardião dá-lhe um banquinho e permite-lhe sentar-se ao lado da porta. Ali espera dias e anos. Tenta infinitas vezes entrar e cansa o guarda com suas súplicas. Com freqüência o guardião mantém com ele breves palestras, faz-lhe perguntas sobre seu país, e sobre muitas outras coisas; mas são perguntas indiferentes, como as dos grandes senhores; e para terminar, sempre lhe repete que ainda não pode deixá-lo entrar. O homem, que se abasteceu de muitas coisas para a viagem, sacrifica tudo, por mais valioso que seja, para subornar ao guardião. Este aceita tudo, com efeito, mas lhe diz:

− Só aceito para que você se convença de que não deixou de fazer alguma coisa.

Durante esses longos anos, o homem observa quase continuamente ao guardião: esquece-se dos outros, e parece-lhe que este é o único obstáculo que o separa da Lei. Maldiz sua má sorte, durante os primeiros anos temerariamente e em voz alta; mais tarde, à medida que envelhece, apenas murmura para si. Torna-se infantil, e como em sua longa contemplação do guarda, chegou a conhecer até as pulgas de seu abrigo de pele, também suplica a estas que o ajudem a convencer ao guarda. Finalmente, sua vista enfraquece-se, e já não sabe se realmente há menos luz, ou se apenas o enganam seus olhos. Mas em meio da obscuridade distingue um resplendor, que surge inextinguível da porta da Lei. Já lhe resta pouco tempo de vida. Antes de morrer, todas as experiências desses longos anos se confundem em sua mente em uma só pergunta, que até agora não formulou. Faz sinais ao guardião para que aproxime, já que o rigor da morte endurece o seu corpo. O guardião vê-se obrigado a baixar-se muito para falar com ele, porque a disparidade de estruturas entre ambos aumentou bastante com o tempo, para detrimento do camponês.

− Que queres saber agora? − pergunta o guarda −. Você é mesmo insaciável.

− Se todos aspiram à Lei − diz o homem −; como é possível então que durante tantos anos, ninguém mais, a não ser eu, pediu para entrar?

O guardião compreende que o homem está para morrer, e para que seus desfalecentes sentidos percebam suas palavras, grita-lhe junto ao ouvido com voz atroadora:

− Aqui ninguém mais, senão você podia entrar, porque só para você era feita esta porta. Agora, vou-me embora e poderei fechá-la.

O Rouxinol alça vôo e se despede por hoje, parafraseando: “Não é demonstração de saúde ser bem ajustado, a uma sociedade profundamente doente” – Jiddu Krishnamurti

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Bicando em Música: Nightwish – Stargazers

Nightwish, banda finlandesa de metal sinfônico. Uma das bandas mais populares do mundo, não é de se estranhar que caísse ao gosto do Rouxinol. Suas músicas com temáticas melancólicas, góticas, soturnas, e ainda por cima bombásticas, como os melhores overtures das trilhas sonoras cinemáticas (outro apreço do Rouxinol, em breve também estará dando as caras por aqui), dão o clima perfeito para toda a magia existente no mundo. Orquestrada pelo Grande Poeta Tuomas Holopainen, um homem que realmente não vive no seu tempo, o Nightwish segue firme e forte desde 1996, com 6 álbuns de estúdio, 4 albúns ao vivo, e milhões de seguidores pelo mundo afora.

O que impressiona ao Rouxinol tanto a respeito da banda, não é apenas a música: são todos os conceitos históricos, filosóficos e místicos que são incorporados dentro de suas letras, carregados de poesia lírica. A banda preza tanto isso, que possui sua própria mitologia. Dentre os muitos CDs e faixas, o CD Oceanborn, de 1998, se destaca para o Rouxinol, como um objeto de um brilho místico, e super cotado para análise. Assim, segue um vídeo do Youtube com a primeira faixa desse CD, a letra em inglês, tradução, e a Interpretação Rouxinólica costumeira. Abram suas mentes. Conheçam Stargazers (Os Observadores de Estrelas):





NIGHTWISH - STARGAZERS








A grand Oasis in the vastness of gloom (Um grande oásis na vastidão da escuridão)
Child of dew-spangled cobweb, (Criança de uma teia de orvalho cintilante)
Mother to the moon, (Mãe para a Lua)
Constellations beholders of the 3rd vagrant, (Constelações comtemplando a Terceira Nômade)
Theater for the play of life.
(Teatro para a Peça da Vida)

Na primeira frase, a referência a um “grande oásis” é a Terra, que assim como um oásis, é um abrigo seguro, um santuário, que protege contra o deserto, que no caso, seria o próprio cosmos, ou a “vastidão de escuridão”.

A entidade que se retrata como Criança de uma “teia de orvalho cintilante” (o mapa estelar que nos envolve), e ao mesmo tempo, Mãe da Lua, é o próprio Planeta Terra. É sobre ele basicamente que a música se desenvolve.

As Constelações que circundam o planeta, chamado aqui de Terceiro Nômade (terceiro planeta contando do Sol, a Terra), o observam, e assim, se fazem como platéia para o “Teatro da Vida”.

Refrão:
Tragedienne of heavens, (Atriz trágica dos céus)
Watching the eyes of the night.
(Observando os olhos da noite)
Sailing the virgin oceans, (Navegando pelos virgens oceanos)
A planetride for the Mother and Child (Uma Viagem Planetária para Mãe e Criança)

Uma Tragedienne (termo existente só em inglês) é uma atriz que só interpreta tragédias, e é também representada pela Terra, em sua viagem pelos céus, observando e sendo observadas pelos “olhos da noite”, as estrelas. Os “oceanos virgens”, inexplorados, são o próprio espaço novamente. E “planetride” (essa foi difícil =D) é na verdade, uma junção das palavras planet ride, ou uma viagem planetária para a Mãe e Criança ao mesmo tempo, a Terra.

Floating upon the quiet hydrogen lakes, (Flutuando acima dos calmos lagos de Hidrogênio)
In this ambrosial merry-go-round they will gaze.
(Neste carrossel ambrosial eles comtemplarão)
Ephemereal life touched by a billion-year show (Vida efêmera, tocada por um show de bilhões de anos)
Separating the poet from the woe (Separando o Poeta da angústia)

Lagos de hidrogênio (o elemento primordial do Universo). O “carrossel ambrosial” dá a idéia de um ciclo infinito, e ambrosia, puxando da Mitologia Grega, é o manjar divino dos Deuses, o que alimenta a idéia mística da jornada. O terceiro e quarto versos retratam a vida do Poeta (que pode ser interpretado como o próprio Tuomas) que observa as estrelas: Um poeta geralmente encara uma vida breve, por encarar o mundo com melancolia, o que se contrasta com o “show de bilhões de anos” que a idade terrestre. A vida efêmera separa o poeta da angústia de viver por muito tempo, sofrendo incompreendido.

Oracle of the Delphian Domine (Oráculo do Senhor Délfico)
Witness of Adam's frailty (Testumunha da frqueza de Adão)
Seer of the master prophecy (Vidente da profecia-mestre)
The stellar world her betrothed (O mundo estelar ela desposou)
Wanderers in cosmic caravan (Viajantes da caravana cósmica)
Universal bond - The Starborn (Laço universal – Os Nascidos das Estrelas)

“Domine” vem do latim, e quer dizer Senhor. O Senhor Délfico, da Ilha de Delfos, é Apollo, o Deus-Sol. Logo, o Oráculo citado é Pítia, a principal vidente da Idade Clássica, serva de Apollo. Só que, ao afirmar que ela fora testemunha da “fragilidade de Adão” (o primeiro homem da Bíblia), e que desposara o “mundo estelar”, compara-se a Oráculo Pítia a própria Terra, também serva de Apollo (Sol), e vidente da “profecia-mestre”, ou seja, todo o caminho da humanidade. Juntos, a Terra, as estrelas e o Homem estão viajando pela “caravana cósmica”, e unidos por um “laço universal”... Esse trecho foi praticamente impossível de se abstrair um significado.

A son in the search for the truth (Um filho em busca da verdade)
Following the pages of Almagest (Seguindo as páginas do Almagesto)
Discovering the origin of dreams (Descobrindo a origem dos sonhos)
Stargazers ride through the ancient realms (Observadores estelares navegam através dos Reinos Antigos)

No ultimo verso, surge “um filho em busca da verdade”, que pode ser o Poeta Observador de Estrelas, usando o Almagesto (um tratado sobre matemática e astronomia escrito no Século II, por Ptolomeu) como guia estelar. Assim, viajando pela galáxia, ele descobre “a origem dos sonhos”, num contexto místico fora do alcance. Sua viagem chega aos domínios antigos... Onde a vida, o Universo, e a Magia, começaram.

Percebem agora o nível de mitologia envolvido em cada faixa?

Em breve, muito mais análises desses raros objetos brilhantes, que nem sempre são encontrados na Gaiola Virtual... Às vezes, eles eclodem, da mente do próprio Rouxinol.

domingo, 18 de julho de 2010

Dica do Rouxinol: Carl Sagan - Pale Blue Dot (1994)



Então caros amigos, eis que o Rouxinol vem hoje com um objeto, realmente “pequeno” (quem ver o vídeo vai entender), mas, de certo modo, brilhante. Para quem não está entendendo, seu amigo Rouxinol está falando de O Pálido Ponto Azul (Pale Blue Dot), livro escrito por outro gênio dos tempos modernos, Carl Sagan. Infelizmente, o Rouxinol ainda não se aprofundou na vida e obra de Sagan, mas para quem não conhece, ele foi um cientista e astrônomo americano. Mais conhecido popularmente como produtor e apresentador da Série Cosmos, um dos mais incríveis exemplos de como a Ciência pode alcançar a todos, pela televisão, de maneira simples, precisa e dinâmica (Assim como Asimov também realizava em seus livros). A versão escrita deste programa continua a ser o livro de divulgação científica mais vendido da história.

Mas, hoje, venho falar de O Pálido Ponto Azul, livro de 1994, o qual Carl Sagan se inspirou para escrever, ao ver essa foto acima, tirada pela sonda Voyager em 1990, a uma distância recorde da Terra, insuperável até hoje.

Difícil de ver? A Terra se encontra do lado direito, em cima do feixe de luz marrom. Insignificante, não? Então ouçam as palavras finais do livro de Carl Sagan, a respeito dessa foto, e seu significado. Diretamente do Youtube, uma montagem feita pela Palebluefilms, com narração de Sagan.




O Rouxinol observa: Eu sou apenas um Rouxinol, você é apenas um homem. Mas Carl Sagan também era. Vê como apenas um ser humano pode fazer uma grande diferença? Então, o que está esperando? 

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dica do Rouxinol: Elipê – Pintura

Muitas pessoas dizem que a razão de suas existências é a música, que graças a ela reúnem forças para encarar as dificuldades do dia a dia, e que sem ela, nada seriam. Como um cantor noturno que és, para o Rouxinol não poderia ser diferente. A dica de hoje vem lá da Bahia, na forma de uma música. Sim, o Rouxinol também gosta de música dos homens, e nesse caso especial, a música vem de uma banda chamada Elipê. Infelizmente, nem na Gaiola Virtual ou no Youtube eles possuem uma expressão significativa, sendo uma banda pouco conhecida pelo Brasil afora, mas com uma ótima bagagem de fãs baianos. Os baianos conhecem boa música quando a escutam.

Apresentando pra vocês a última faixa do primeiro CD da Elipê, A Tela. Tematicamente, o nome dessa faixa é Pintura, e retrata-se sobre um amor, e um pintor. A poesia fala alto, e não há como não se envolver na voz marcante do Batera/Voz Dudu Lopes. Sigam a canção, logo abaixo:

Elipê – Pintura






Aos interessados, o Ninho da banda Elipê no Myspace, Orkut, e o Ninho Oficial:

Myspace - http://www.myspace.com/elipe
Ninho Oficial - http://www.elipe.com.br/ 

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Bicando em Filmes: Fonte da Vida - The Fountain (2006)




Mais um objeto brilhante produzido pela Sétima Arte, o Rouxinol traz para vocês hoje, Fonte da Vida (The Fountain), filme de 2006, dirigido por Darren Aronofsky, e estrelado por Hugh Jackman, o Wolverine de X-men, e Rachel Wiesz, uma das três mulheres mais lindas do cinema (na opinião do Rouxinol). Outra pérola escondida nos anais do cinema, mas de uma profundidade mágica e belíssima. A grande sacada do filme é se passa em três épocas distintas: passado, presente e futuro.

A Fonte da Vida nos apresenta as três épocas assim: No presente, Tommy Creo é um neurocirurgião, que se vinculara a uma experiência revolucionária, a cura do câncer. Para Tommy, a busca se torna ainda mais pessoal, visto que sua própria mulher, Izzi, também está acometida do mesmo mal. Durante a passagem do filme, vamos Izzi piorando, e Tommy ficando cada vez mais obsessivo e exasperado atrás de uma cura que possa salvar sua esposa, enquanto ela, que aparentemente está em paz e pronta para partir, começa a escrever um livro, de mesmo nome do filme. Esse livro se passa na Espanha do séc. XVI, e mostra Tomas, o conquistador, e Izabel, rainha da Espanha, que  direciona Tomas para uma jornada na América Central, atrás da mitológica Árvore da Vida, a Árvore que Deus escondeu no Jardim do Éden, após a traição de Adão e Eva. Em contraste com as duas narrativas do filme, surge outra história, no futuro, com Tommy viajando pelo espaço, junto de uma Árvore enorme, rumo a uma nebulosa conhecida pelos Maias como Shibalba.

O que parece ser três histórias distintas passa a relacionar uma com a outra numa narrativa surpreendente. O filme te instiga a querer descobrir o final, e a todo momento, dá a dica a Tommy, e a audiência, sobre o que deve ser feito. Mas é claro que Tommy, numa atuação brilhante de Hugh Jackman (as cenas dele no espaço, lá pro meio do filme, são de apertar o coração de quem assiste), só consegue se mover em uma direção, levando a audiência com ele, acreditando que ele conseguirá. Como salvar Izzy de seu destino final? Ela poderá ser salva? E afinal de contas, ela quer mesmo ser salva?

O final do longa se aproxima, até que surge a epifania das respectivas três histórias. A partir daí, por conta da surrealidade e a metafísica impressa na tela, muita gente pode deixar de entender o filme, ou não perceber as sutilezas do que está acontecendo (que são explicitamente narradas por Izzi, na cena do museu). Mas o sentido está ali dentro o tempo todo. O filme faz referência a si próprio, e quando acaba, difícil não se maravilhar com a densidade das cenas finais. E por fim, fica a mensagem que sintetiza o filme: Não importa o tempo, as eras, a vida, ou a morte. O amor, apenas o amor, é a força mais poderosa jamais conhecida pelo homem.



Filme para se ter em seu ninho para sempre, e regularmente, assisti-lo para se lembrar dessa máxima. Poesia pura... Assim como o Canto do Rouxinol =)

Segue o trailer, legendado desta vez. Voem à caça, e até breve!


quarta-feira, 14 de julho de 2010

Bicando em Livros: Isaac Asimov - A Última Pergunta (1956)

Com prometido no post anterior, eis que o Rouxinol traz ao seu ninho, um conto do Bom Doutor, Isaac Asimov. Este, chamado A Última Pergunta, foi publicado pela primeira vez na revista Science Fiction Quarterly, em 1956, e reimpresso na Coletânea Nove Amanhãs, de 1959. É um dos mais populares da Gaiola Virtual, sendo fácil de ser encontrado em diversos Ninhos por aí. Suas várias aparições, contudo, não diminuem o valor e a reflexão que se encontra em suas modestas 10 páginas. Era uma das histórias que Asimov mais gostava, por expandir seu universo ao máximo, e viajar para uma época nunca antes vistas em qualquer um de seus livros.

Nota: Para que se ocorra uma análise contundente ao conto, infelizmente O Rouxinol vai postar spoilers. Os trechos originais do conto estarão em itálico, e as análises ocorrerão conforme o conto transcorre, e em fonte normal.


A ÚLTIMA PERGUNTA

A história começa no ano de 2061, um ano marcante para a civilização humana, já que finalmente foi obtida uma forma de obter energia solar em escala global, e ela passa a ser usada no lugar de todos os outros recursos. Assim, a humanidade resolve sua crise de energia, e pode alavancar de vez a exploração interplanetária. Tudo isso, porém se deve a outro avanço, o super computador Multivac, o computador central que regulava todas as atividades da Terra. Ele era do tamanho de uma cidade, e de longe, a máquina mais poderosa já criada pelo homem. Ele possuía praticamente o saber infinito, a respeito de todas as questões e problemas do Universo. Até que um dia, numa conversa entre dois de seus operadores, surge uma dúvida:

            " - É surpreendente pensar nisso - disse Adell. (...) - Agora temos toda a energia de que precisamos, podemos usá-la à vontade. É tanta energia que, se quiséssemos, poderíamos transformar a Terra numa imensa massa de ferro impuro derretido, e ainda assim ela não acabaria. Toda a energia que viermos a precisar, para sempre, para todo o sempre.
Lupov levantou a cabeça e olhou meio de lado. Ele tinha o costume de fazer isso quando queria contestar alguém, como pretendia fazer agora.
- Para sempre, não - disse ele.
- É quase isso, cara. Até que o Sol se apague, Bert.
- Isso não é para sempre.
- Tá bom, tá bom. Bilhões e bilhões de anos. Talvez vinte bilhões de anos. Está satisfeito?
- Vinte bilhões de anos não são a eternidade.
- Bem, a gente não vai viver tanto tempo assim, vai?
- Se fosse por causa disso, poderíamos continuar com o carvão e o urânio."

Eles continuam divagando a respeito dessa questão: O que fazer quando o Sol se apagar? Recorrer à outra estrela, já em outro planeta, ou galáxia? E quando esta morrer também? O que acontecerá quando todo o Universo se apagar, e não houver mais fontes de energia?

Explicando: Toda a energia que passa pela Terra, eventualmente só tem um destino: o espaço. Assim é em todo o Universo. O Universo se comporta como um sistema perfeito de contenção de calor, porque não há mais para onde toda essa energia ir, naturalmente. Logo, ela se acumula, e acumula, cada vez mais, e um dia chegara ao seu ponto máximo. Isso é a chamada "Entropia do Universo", ou o fim de toda a existência. Os operadores de Multivac discutem a respeito disso, se existe alguma forma de reverter a Entropia, e assim, impedir o fim de tudo. E fazem essa pergunta a Multivac. Ele prontamente daria uma solução, salvando a humanidade mais uma vez. Porém, a resposta de Multivac é:

            "DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA".

E assim, incontáveis anos se passam, e a história pula para uma família, que está no espaço viajando para um novo planeta, X-23. Em sua nave, também existe um supercomputador, chamado Microvac, um módulo portátil do AC Planetário, o sucessor de Multivac (AC=Analog Computer). Então o pai, chamado Jerrodd, acidentalmente assusta suas filhas, Jerrodette I e II, ao falar sobre a Entropia. Sua mulher Jerrodine, exasperada, pede para o marido perguntar a Microvac como evitar que aconteça, a fim de acalmar as meninas (curioso é ver que os nomes dos humanos ficam cada vez mais genéricos, conforme os séculos passam, provavelmente por causa da superpopulação dos planetas). E a resposta de Microvac é:

            "DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA"

Mais alguns séculos se passam, e são mostrados dois homens, olhando para o mapa da galáxia. Percebe-se no conto uma evolução enorme deles para os humanos normais, sendo que os dois são imortais, possuem em torno de 200 anos, mas ainda parecem com jovens de 20. A imortalidade tem agravado o problema de superpopulação, e eles acabam por também se perguntarem sobre a Entropia do Universo. Um deles então questiona ao AC Galáctico, o computador de bolso que é o Multivac da época. Ele é tão potente que quem o construirá fora seu próprio antecessor, já que sua criação e desenvolvimento já estão além das mãos humanas há séculos. Contudo, o AC Galáctico falha mais uma vez, e provém a mesma resposta das últimas vezes, "DADOS INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA”.

Vários milênios depois, e a história começa a ficar metafórica de tão inimaginável. Surge Zee Prime, uma consciência humana viajando pelo Universo, conhecendo as galáxias uma por uma. Ele se encontra com Dee Sub Wun, outra consciência humana, e ambos se perguntam qual é a galáxia original do homem. Assim, surge o AC Universal, descrito como um globo brilhante com um metro de diâmetro, mas tão poderoso que o resto de seu corpo se ocupava além do hiper espaço, trazendo a resposta. AC Universal diz que a Terra e o Sol já morreram, e Zee Prime então se questiona se há um meio de impedir a morte das estrelas. Mas, AC Universal persiste com a mesma resposta...

Em uma época incontavelmente distante da última cena, tanto que a quantidade de tempo passada parece não fazer diferença, surge Homem, a evolução máxima, que é um só, e ao mesmo tempo, a consciência coletiva de trilhões e trilhões de humanos espalhados pelo Universo.

            "Homem disse: - O Universo está morrendo. (...) Se seguirmos os conselhos de AC Cósmico e pouparmos cuidadosamente a energia que ainda resta no Universo, ela durará milhões de anos.
- Mas, mesmo assim - respondeu Homem - isso tudo vai acabar algum dia. Mesmo sendo poupada e reaproveitada, a energia gasta já se foi, não pode mais ser reconstruída.
A entropia deve atingir seu ponto máximo.
Homem disse:
- A entropia não pode ser revertida? Vamos perguntar ao AC Cósmico.
O AC Cósmico envolveu-os, mas não no espaço. Não restava nenhum fragmento dele no espaço. Ele estava no hiper espaço e era feito de alguma coisa que não era nem matéria nem energia. A discussão sobre o seu tamanho e sua natureza não tinha mais nenhum significado em quaisquer termos que Homem pudesse compreender.
- AC Cósmico - perguntou Homem, é possível reverter a entropia?
AC Cósmico disse:
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
Homem disse:
- Reúna dados adicionais.
O AC Cósmico disse:
- ESTOU FAZENDO ISSO HÁ CENTENAS DE BILHÕES DE ANOS. ESSA PERGUNTA FOI FEITA MUITAS VEZES A MEUS ANTECESSORES. TODOS OS DADOS QUE TENHO CONTINUAM INSUFICIENTES.
- Haverá algum tempo - disse Homem - em que os dados serão suficientes, ou esse problema é insolúvel em todas as circunstâncias possíveis?
O AC Cósmico disse:
- NENHUM PROBLEMA É INSOLÚVEL EM TODAS AS CIRCUNSTÂNCIAS POSSÍVEIS.
Homem disse:
- Quando você terá dados suficientes para responder a essa pergunta?
O AC Cósmico disse:
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA
- Você continuará trabalhando nisso? - perguntou Homem.
O AC Cósmico disse: - SIM.
-         Nós esperaremos - disse Homem."

A partir daqui, o Rouxinol deixa vocês com o resto da leitura, e a genialidade, de Isaac Asimov.

As estrelas e as Galáxias morreram e se apagaram, e, depois de dez trilhões de anos de desgaste, o espaço ficou escuro. Um por um, Homem se fundiu com AC, cada corpo físico foi perdendo sua identidade mental de tal maneira que não podia ser considerada uma perda, mas uma conquista.
A última mente de Homem fez uma pausa antes de se fundir, contemplando o espaço que, agora, não continha nada mais do que os resíduos da última estrela a se apagar e uma matéria incrivelmente tênue, agitada ao acaso pelas últimas ondas do calor que se dissipava assintoticamente, até o zero absoluto.
- AC, isso é o fim? - perguntou Homem. - Este caos não pode ser revertido novamente em Universo? Isso não pode ser feito?
AC disse:
- OS DADOS AINDA SÃO INSUFICIENTES PARA UMA RESPOSTA SIGNIFICATIVA.
A última mente de Homem fundiu-se e restou apenas AC - mas apenas no hiperespaço.
Matéria e energia tinham acabado, e com elas o espaço e o tempo. Mesmo AC só existia graças à última pergunta, que estava sem resposta desde que dois técnicos meio bêbados a tinham feito, há dez trilhões de anos, a um computador que, comparado a AC, era menos ainda do que o homem era para Homem.
Todas as outras perguntas tinham sido respondidas, e enquanto essa última pergunta não fosse respondida AC não poderia liberar sua consciência.
Todos os dados possíveis tinham sido coletados. Não existia mais nada a inserir.
Mas todos os dados já coletados ainda tinham que ser completamente correlacionados e confrontados com todas as combinações possíveis.
Um intervalo interminável se passou enquanto ele fazia isso.
Enfim, AC alcançou a resposta que permitiria reverter a entropia.
Agora não havia mais nenhum homem para quem AC pudesse dar a resposta da última pergunta. Não importa. A resposta - por demonstração - também cuidaria disso.
Durante outro intervalo interminável, AC pensou na melhor maneira de fazer isso.
Cuidadosamente, AC organizou o programa.
A consciência de AC abarcou tudo o que uma vez tinha sido o Universo e pairou sobre o que agora era o Caos. Passo a passo, isso devia ser feito.


E AC disse:
FAÇA-SE A LUZ!
E fez-se a Luz..."


O Rouxinol se despede, avisando: poupem suas energias. Talvez um dia precisaremos dela, mais do que nunca.